quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Alteridade (II) - Alteridade, política e sociedade

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Alteridade, política e sociedade

Quando falamos de alteridade enfatizamos a importância do/a OUTRO/A para que se estabeleça uma relação ou até mesmo uma construção do SI MESMO e da noção de INDIVÍDUO. Isso levando em conta a alteridade enquanto categoria antropológica de relação.

No campo da política a alteridade deixa de ser apenas categoria antropológica de relação para fazer-se ponto de partida para a construção e reconstrução da sociedade nos seus diversos espaços, ideais e instituições. Alteridade aqui configura o surgimento do “ser – para – o/a – outro/a".

Nos vários sistemas políticos que já existiram ao longo da história nas diversas sociedades, a alteridade esteve presente, mesmo que implicitamente, e até mesmo como expressão do domínio de uns sobre outros.

E hoje, especialmente no Brasil, como podemos perceber a alteridade no campo da política e da sociedade? Vivemos em um quadro político cheio de contradições e aspectos negativos que foram sendo 'construídos' ao longo dos anos. Uma espécie de crise ética, onde facilmente associa-se a política à corrupção, isso na política enquanto sistema de organização da democracia e administração do estado, fazendo com que as pessoas não sintam atração pelas questões políticas, como participação, organização popular e etc.

Em um contexto internacional a política está intimamente ligada ao processo de globalização. Algo que aproxima os distantes e separa os próximos. Cheio de paradoxos desde a sua forma embrionária. No contexto do sistema capitalista a globalização é um forte aliado, pois ajuda a manter suas contradições e garante seu foco: a guerra pelo capital.

Do ponto de vista da alteridade podemos afirmar que este quadro é reflexo do quanto O/A OUTRO/A é negligenciado em nome dos interesses de alguns indivíduos. A política, nesse contexto, deixa de ser algo de uns para os outros reciprocamente, e passa a ser um simples e disputado jogo de interesses de UNS contra OUTROS e vice versa.

Diante disso tudo é notável a carência de informação e o quanto isso implica em um agravamento dessa situação, pois para muitos, política não passa de uma formulação abstrata e inexistente de fato, como algo que apenas é percebido em época de eleições ou mediante os escândalos nos bastidores da administração pública. Nem mesmo nos disparates das guerras as pessoas ligam imediatamente os fatos à conjuntura política. É lamentável fazer tal análise, porém, acredito que esse quadro faz parte do processo contínuo de transição e reformulação da sociedade e dos diversos espaços políticos e de convívio social, não sei se para melhor, mas vejo como um fato, embora só o conceba em seu aspecto mobilista.

No campo das relações ‘alteridade, política e sociedade’ seria uma espécie de “tripé” para dar forma à essa construção coletiva dos indivíduos. De maneira que os valores dessas relações seriam pautados para o bem estar comum, possibilitando às pessoas uma mutualidade de cooperação. Dessa forma o ideal seria um sistema político que traspassasse de maneira transversal a sociedade, de forma abrangente e efetiva. Porém, antes da implantação de qualquer sistema político seria necessário acontecer uma reviravolta, mesmo que paulatina, nas questões morais da sociedade. Assim, ao invés de termos um sistema político que apenas visa a legalidade, teríamos uma nova estrutura social.

(*)

É algo um tanto vago ainda, por enquanto, mas é até onde meu raciocínio me leva no momento.

Mesmo porque, penso, que no contínuo processo de transição essa reviravolta não será facilmente perceptível, como não é atualmente. Mas pode ser que daqui a muitos anos será algo real, e assim, partindo de uma nova moralidade, com novos valores que considerem a real situação e percepção das pessoas e da natureza como um todo, um sistema político que de fato visa a igualdade social será possível.


Ediane Soares




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