sábado, 19 de julho de 2008

Neruda

Existem poetas. Existem os essencialmente poéticos. Existem os poetas bons. E por fim existem os da laia de Pablo Neruda.

Não consigo conter minha admiração e empolgação com a obra desse 'gênio' da arte poética, esse pensador livre, esse ser humano grandioso. E como dizia o Filosofo bigodudo*: 'Humano, demasiadamente humano'. É isso que sinto quando leio uma frase, um fragmento que seja do Neruda; é assim que eu saboreio a poesia.

É assim...
Sentir por sentir é comum. O melhor é sentir lendo O Poeta!
A sutileza traduzida na mais inteligente e sensível poesia.


Por Ele...

"Posso escrever os versos mais tristes essa noite"

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.




*F. Nietzsche (filósofo bigodudo)

3 comentários:

ADEO disse...

Voltei a postar no blog... Último recanto que a graça me sorrir...
bjos.

PARABÉNS PELO SEU BLOG
LINDO!!!

Andréa Beníccio disse...

"O esquecimento dura até quando a faísca não faísca..
basta umazinha..

É tão curto o esquecimento, como é tão longo o amor, depois daquela RE-faísca.."

Grande abraço emocionado,
por os versos mais tristes desta noite e mais sinceros...
Senti!

Anônimo disse...

"É tão curto o amor, tão longo o esquecimento."

no comments!!!

beijos