terça-feira, 15 de julho de 2008

O nó na garganta

Teoricamente hoje nasceu o mesmo sol que ontem se pôs. Algumas nuvens do céu estão mais deformadas que outras. Faz calor. Venta.

O menino do sinal não apareceu hoje. Parecia bem cansado ontem à noite. Tinha uma senhora bem idosa no lugar dele. O mesmo sol que ontem se pôs, nasceu também na rua hoje?

Nasceu. E nasceu bravamente. Nasceu como nasce o primeiro filho do ano de um casal que já tem mais de seis. Nasceu como nasce o Rio Cocó. Nasceu como nasce a saudade por alguém que nunca esteve aqui.

É confuso saber que um nó na garganta, como esse que me atormenta e cala, é capaz de sensibilizar ao mesmo tempo todos os gritos contidos, os de alegria e os de dor.

E é sublime testemunhar a obscuridade da vida sendo clareada pela re-vida presente apenas na alteridade que a gente não pode escolher.

Existem milhões de pessoas nuas. E outras tantas se desnudando ainda. E muitas outras mais sufocadas, revestidas pela falta de tento e de nós na garganta ou na alma.


Ediane Soares
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