segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sentença

Ao Guimarães Rosa, pela Terceira Margem do Rio.
"Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio." (http://www.releituras.com/guimarosa_margem.asp)

Por opção
A fadiga das noites
Adormece tarde...
Primeiro inspira
Depois adormece.

As meninas ao deitar
Passam por todo o território do tempo
São óvulos e pacatas senhoras de uma vez só.
Viver nesses dias de hoje
Parece roubar de si mesmas a capacidade de digerir
Assuntos, pendências, vontades, gestos, movimentos, pausas...

Escolher o insubordinado e negar a subserviência
Foi o caminho mais curto e mais largo que a imaginação supôs
Quando chegou na rota do real
O caminho estreitou-se e cresceu absurdamente.

Não é um vazio qualquer
Não há folhas secas, pássaros mortos
É um vazio cheio
Completamente grávido de amanhã
– E gravidez planejada, pela procriação, pela projeção, pela comodidade do lar.

Não é apenas a terceira margem de um rio, como o do Guimarães
É a primeira ponta de uma estaca recém entalhada.
O tempo da mulher, parceiro das horas, pede pressa
Para que as meninas caminhem devagar, de vagar.

Se viver não for um susto
Que não seja também um prego martelado na mão de mais um herói.
Que viver seja leve, como é óbvio escolher uma prisão no lugar da sentença de morte.

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