segunda-feira, 2 de abril de 2012

Confissão V


- O filho das promessas vocifera por nós.

Minha senhora, cara travessa, melanina de minha pele [seca],
deixai que o amor amanheça
deixai o amor, e anoiteça
que o momento é maior que uma vida de prometimentos
mas a construção é melhor do que o que desapareça...

Cultivar o amor é saber-se só, porém
é ter ao lado alguém igualmente só.
[são os filhos que talvez não quero ter, é a casa com varanda torta, é a placa sinalizando na porta, uma notícia feliz]

Me diz...
Se o que é efêmero se apropriar de nós?
Se a cama se ocupar de vultos e espertezas?
Será o eterno retorno do mesmo...
E o que se construirá serão refrões de músicas inacabadas e dementes.
E se assim for
Serei cada espaço de tempo perdido (calado):
- uma serenata sem som.
Serei um brinco sem orelhas
um copo sem cerveja
bicicleta sem arranhões
os mais fervorosos sermões (de um crente-ateu).

Serei um Prometeu de fogo em punho
e amarei ardente a humanidade inteira, e teu.

- - -


Prometheus
Wolfgang Goethe (1774)

"Encobre, ó Zeus!
o céu com suas nuvens.
E como o jovem 
que gosta de colher
cardos no campo, em teu poder conserva
o robusto carvalho e o alto cume
da espaçosa montanha.
Mas consente que eu use
essa terra que é minha,
esse abrigo que eu fiz,
e esta forja que quando faço arder,
tu, no Olimpo, me invejas.


(...)


Aqui estou.
Homens faço segundo a minha imagem,
Homens que serão logo iguais a mim.
Divertem-se e padecem,
gozam e choram
mas não se renderão aos poderosos
como também eu nunca me rendi!"


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