Lendo um livro, como fonte de pesquisa para um trabalho, me deparo com um dos maiores prazeres de se estudar filosofia: um pensamento genial e atemporal. Como diria um admirado filósofo contemporâneo, (que prefere ser chamado de músico), Prof. Dilmar Miranda, é quase "um gozo estético".
Trata-se do livro "O Ofício do Filósofo Estóico: O Duplo Registro do Discurso da Estoá", da Rachel Gazola (PUC-SP). Texto raro no meio acadêmico, principalmente em se tratando da área de Filosofia antiga. Claro, conciso, leve, didático e ao mesmo tempo gostoso de ler.
Mas a pérola a qual me referia (não menosprezando o texto da autora), diz respeito a algumas frases de Zenão de Cício (336 a.C. – 264 a. C.), que a autora cita em seu livro, que dizem:
"... devemos considerar todos os homens como 'démotas' e cidadãos, e que o modo de vida seja uno e a ordem una, como um rebanho que numa pastagem se nutre em conjunto, segundo uma mesma lei..."
"... é inútil a cultura geral... os tribunais, os ginásios, os santuários são inúteis... o sistema de educação é inútil"
Pérola de pensamento. Nada mais atual! Nada mais lógico, principalmente se analisarmos sob o ponto de vista da contextualização do autor e da conjuntura na qual ele vivia.
Zenão era estrangeiro em Atenas. Um bárbaro. Chega ainda jovem à cidade grega, a polis por excelência, para estudar. Já naquela ocasião, por volta de 326 a.C, Atenas, apesar de seu rico aparato cultural e desenvolvimento comercial, passava por uma visível decadência ético-política. Além disso, ainda persistia a idéia de que os gregos eram superiores aos outros povos. Ao consultar o Oráculo sobre o que deveria se ocupar em seus estudos recebe o indicativo: "torna-te da cor dos mortos". Zenão, segundo Diógenes Laércio, interpreta como tendo a missão de conhecer a cultura grega, desde Homero.
Mais tarde funda a sua escola, que se reunia na Stoa Poikile, razão pela qual seus discípulos ficaram conhecidos como estóicos. Tratava-se de um pórtico abandonado, que guardava nas paredes pinturas matizadas, onde na época da "Tirania dos Trinta", haviam morrido mais de 1.400 atenienses (Escolhera o local por causa do oráculo? Não se sabe certamente).
Considerado pelos historiadores como tendo sido um homem de bem, dígno, Zenão e sua doutrina, também ficaram bastante conhecidos por não se importarem com o civismo grego. Ele poderia ter reivindicado a cidadania ateniense, mas ao contrário, era bastante crítico à cultura centrada em tal posicionamento. Para ele, antes de ser cidadão de qualquer lugar, seria necessário perceber-se como parte do cosmo, de maneira a aprofundar a individualidade universal, que não vê na individualidade a mesma conotação moderna de separação do individuo dos demais e do mundo, mas enfatiza a singularidade de cada um, ao mesmo tempo em que afirma que "ser homem é anterior a ser grego, fenício ou espartano e que o essencial é ser cosmopolita, cidadão do mundo, o que significa desconsiderar os limites geopolíticos traçados pela historicidade".
O próprio Zenão fez do estoicismo um adjetivo. E mais tarde, outros segmentos da escola fundada por ele, mesmo inovando e desconstruindo alguns traços da sua doutrina, ainda um tanto influenciada pelos cínicos, demonstraram que a essência desse pensamento permanecia: é preciso saltar da Polis à Cosmopolis. O cosmopolitismo, nessas bases, vieram a influenciar, mais tardes, grandes pensadores e os variados debates na área de Direitos Humanos.
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Segue abaixo o resumo do meu trabalho para apreciação:
O COSMOPOLITISMO ESTÓICO E OS DIREITOS HUMANOS
O fundador do estoicismo foi Zenão de Cicio (336 a.C. – 264 a. C.), que nasceu em Cítio, na ilha de Chipre, mudando-se para Atenas por volta de 312 ou 311 a. C.. Seus discípulos, formadores da escola estóica, ficaram conhecidos como estóicos por causa do lugar onde se reuniam, Stoa Poikile. Segundo a escola fundada por Zenão, para se alcançar a felicidade, que é o próprio sentido da vida, é necessário ser cosmopolita, ou seja, cidadão do mundo, o que significa ultrapassar os limites geopolíticos da existência. O conceito de cosmopolitismo nascente com os estóicos surge da necessidade de troca de experiências entre os povos, onde o individuo pertencente a um povo deveria sentir- se em casa em qualquer parte do mundo, disposto a aprender e vivenciar novas culturas, além de transmitir aspectos da cultura do seu lugar de origem, sem sofrer represaria por ser estrangeiro. O presente trabalho tem por objetivo mostrar as influências dessa escola de pensamento tão importante para a História da Filosofia nos atuais debates sobre Direitos Humanos no âmbito das relações internacionais. Um aspecto importante que será abordado neste trabalho é a atual situação dos imigrantes e a restrição ou limitação da circulação das pessoas pelo mundo.
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