quarta-feira, 16 de junho de 2010

Parada Gay*

Por Alex Castro.

2002. Eu ainda casado. Plena Copa do Mundo. Jogo da seleção e churrasco com um grupo dos meus amigos de infância. Depois da comilança, eu e a ex nos levantamos e anunciamos estar indo pra praia de Copa ver a parada gay. Alguém quer ir junto?

Oh, o horror, o horror! Pela reação, parecia que tínhamos dito: vamos até o depósito de lixo comer merda, vocês acompanham? Pra começar, não acreditaram: Ah, não, fala sério. Não pode ser. O Alex fala essas coisas só pra chamar atenção.

Ficamos tão surpresos com aquela reação que praticamente só o que pudemos fazer foi confirmar que sim, íamos sim, qual era o problema?

Alguns simplesmente nunca acreditaram. Para eles, ir a uma parada gay era algo terrível demais para conceber alguém fazendo por livre e espontânea vontade. Outros começaram a questionar minha masculinidade. E poucos, os que perceberam que era verdade, ficaram perguntando: por quê?! por quê?!, como se quisessem entender, meu deus, o que poderia levar alguém a ir até o depósito de lixo comer merda.

Não há problema algum em não ir à Parada Gay, claro. Eu nunca teria ido se não fosse a ex querer ir e, se ninguém mais me levar, provavelmente nunca irei de novo. Não sou muito de festa. O que me chocou foi a reação.

Eu e a ex sabíamos que aquele povo era careta. Nunca tínhamos falado do nosso casamento aberto nem das experimentações sexuais que fizéramos. Afinal, pra que chacoalhar demais suas cabecinhas? Ainda assim, foi um choque perceber que até mesmo um programa vovó como ir a uma parada e ficar em pé na calçada vendo os carros passarem (sem precisar fazer nada!) era demais para os seus preconceitos. Como iriam reagir se soubessem um décimo de quem éramos e do que fazíamos? Eu sabia que vivíamos em mundos diferentes, mas não imaginava que eram tão distantes.

Por um lado, eu saí de lá feliz, sabendo que estava casado com uma mulher que pensava como eu, que era do mesmo mundo que eu.

E, por outro, fiquei um pouco triste. Sim, eram meus amigos de infância, meus amigos mais antigos, eu os amava e sabia que me amavam também.

Mas nunca me aceitariam.

* * *

*Essa crônica faz parte do livro Liberal Libertário Libertino, do Alex Castro. Foi copiado do blog: http://www.interney.net/blogs/lll.

Um comentário:

Inaê disse...

Foda!
Vamos nessa comer merda?!