sábado, 26 de julho de 2008

=> Ausência filosófica

;;;

Não faz barulho.
Não há silêncio absoluto.
Não há nada de extraordinário no clima.
As horas passam normalmente, com a mesma velocidade de sempre.
Não há nada de novo além do próprio dia, simplesmente porque ele sempre renasce sem ser convidado, acreditado ou merecido.

Para toda presença uma ausência. Agora aqui, agora ausente lá. Sou uma presença ausente o tempo todo. Esse teclado sobre essa mesa está agora presente aqui, mas está ausente da superfície da mesa da cozinha.

Assim é também com a minha porção metafísica. De maneira mais complexa até. Pois ás vezes se faz presente no momento de minha consciência ao mesmo tempo em que está ausente de outros espaços cósmicos. Outras vezes, ocupa espaços desconhecidos por mim e o que me resta é a sua ausência. É essa ausência filosófica que me leva a crer que a vida é retalhada pelas substancias que não conseguimos alcançar, nem com a mais precisa concentração, nem com a menor partícula de fenômeno existente.

A vida é a ausência do que ela é.
A filosofia é a ausência de si mesma.
Somos a nossa própria ausência enquanto existentes nesse mundo.

Essa dança filosófica também se estende pelo que poderia ser ou poderia ter sido. É de onde emerge toda a metafísica que a nossa capacidade de projetar impulsiona-nos para viver. É vontade inata de todo ser existente, vivo ou não, de ser o que é e o que não é ao mesmo tempo. Sem intervalo, sem brechas, com ou sem razão.

É na ausência de amor que o amor projeta a eternidade.



Ediane Soares

Nenhum comentário: