
Tinha saído apenas uma vez depois da última notícia recebida. Tinha perdido o telefone celular, e ficado sem ele, relativamente, durante oito dias. O acesso a internet tinha se resumido aos seus trabalhos e afazeres mais urgentes. Mas justamente agora, quando consigo mesma pensava, vinha à tona toda a percepção do seu sentimento. Não haviam perdas. Não haviam novidades. Não haveria verdade, persuadiu-se com esse pensamento, roeu. Mas ainda havia poesia. Que falava de um amor tão pretenso e indefinido (que ela havia recusado com todas as suas forças a elevá-lo ao seu máximo querer, e que, no entanto, a ultrapassava naquele exato momento deixando-a abaixo das suas expectativas de um fim). Embora agora parecesse seguir sem maiores vestígios de revolta ou cicatrizes, seu pensamento era da ausência, sua inspiração era da lembrança do contorno dos ombros, sua imaginação mais delicada e serena era do desenho desfocado do cabelo preso, com o "rabo de cavalo" mais perfeito, que a tinha acompanhado durante todos os dias de tão pessoal e intocada (agora transtornada) paixão.
Sim. Há poesias ainda pairando no ar. Ama com a força do pensamento, deseja com a intensidade da vontade de esquecer, esquece tal como um vento suave é capaz de elevar toneladas de cobre à milhões de metros de altura ad infinitum e fragmenta como a divisão de um átomo e a sua possibilidade de ser tocado pelas mãos.
Adormeceu e sonhou... ouvindo a canção que insistia em tocar, embalar, ressentir:
"i want to hold you hand, i want to hold you hand…”
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