segunda-feira, 19 de julho de 2010

O desvio das contingências na direção da igualdade

“A idéia de reparar o desvio das contingências na direção da igualdade.”
(J. Rawls)

Acabei de deixar o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, do Curso de Filosofia da UFC, para assumir uma bolsa de iniciação científica - PIBIC. No sétimo semestre, prestes a concluir a licenciatura começo a definir alguns rumos que já vinham sendo desenhados. Esse tempo na licenciatura me fez repensar muitos desses rabiscos que eu vinha pretensamente formulando para o "meu futuro profissional". A pesquisa sempre foi o meu forte e a docência, começo a perceber, uma fraqueza. Uma fraqueza não por ser algo ruim ou estritamente negativo; fraqueza porque é onde eu não me centralizo e acabo por me angustiar ao não conseguir resolver os problemas todos do mundo. Penso e repenso e não consigo chegar a uma conclusão diferente: definitivamente é preciso fazer recortes no mundo para se construir alguma coisa em termos de humanidade. O PIBID me fez (re)perceber alguns graves problemas da educação pública básica de nível médio; problemas esses que eu mesma pude vivenciar no período em que estudei em uma dessas escolas. Depois de passar por esse “laboratório-vivo”, sob mais de um ponto de vista, e de tentar entender os processos que o formam e as suas reais necessidade e potencialidades enquanto micro-cosmo; enquanto parte de um todo, que é a sociedade em que vivemos ("psicótica, neurótica, toda errada", como diria o Nelson Gonçalves), eis que o "macro" me chama.

Um dos autores que venho "escavando", fazendo algumas leituras-bases e procurando costurar idéias é o Hawls. Um trecho de um livro dele que eu estava lendo, O Liberalismo Político, expõe um pouco essa questão da importância de se pensar o todo para analisar os seus recortes e o retorno desse estudo para incidir na realidade.

“Talentos naturais de vários tipos (inteligência inata e aptidões naturais) não são qualidades naturais fixas e constantes.São meramente recursos potenciais, e sua fruição só se torna possível dentro de condições sociais. (...) Aptidões educadas e treinadas são sempre uma seleção e uma pequena seleção, ademais, de uma ampla gama de possibilidades. Entre os fatores que afetam sua realização estão atitudes sociais de estímulo e apoio e instituições voltadas para seu treinamento e uso precoce.” (Rawls 2000: 172)

É de comum acordo dizer que todas as pessoas já nascem com igualdade de capacidades intelectuais. Para alguns teóricos essas capacidades se desenvolvem de acordo com a disposição genética de cada indivíduo; para outros, como é o caso do nosso filósofo, o desenvolvimento dessas habilidades será determinado pelas condições sociais, culturais e políticas sob as quais o individuo está submetido. Por tal posicionamento já podemos perceber que Rawls faz certa contraposição à máxima maquiavélica que influenciou fortemente o pensamento utilitarista e liberal-positivo tradicional: "os fins justificam os meios". Para Rawls são os meios que vão “determinar” ou ao menos influenciar os fins, e esses meios, contingentes ou não, podem ser pensados e ordenados de maneira racional através de uma justiça política que tem por base e fundamento a equidade.

(Continua)

Continuarei escavando e costurando para partilhar por aqui... :)

Um comentário:

Sue Barroso disse...

fazer retalhos da sociedade e depois costurar: Tô começando a entender que é assim que o negócio vai dar certo!

Quero só achar o meu pedacinho certo pra começar alguma coisa...