quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Inferno da Alteridade: O Daimon e o Ethos

Procurei resgatar algumas idéias que se achavam perdidas. Estava sentindo uma necessidade imensa de rever os meus referenciais, teóricos e práticos, fazendo assim um retorno àquilo que realmente importa para a minha caminhada. Após inflexões e reflexões encontrei uns textos do Leonardo Boff  sobre o Daimon e Ethos que ele tanto gosta de tomar como princípios éticos norteadores para as suas reflexões. Em seguida retomei o conceito de alteridade, com o qual gosto de dialogar para fazer algumas reflexões. Eis o que surgiu:

Falar de alteridade, a meu ver, é automaticamente pressupor dualidades/pares (no mínimo). Dualidades essas que ao longo da história do conhecimento vão aparecendo de variadas formas e/ou nomes. Uma dessas dualidades podem ser conferidas nas palavras gregas Daimon e Ethos. É importante ressaltar que quando falo de dualidades não faço referência apenas a pólos opostos, podem ser pólos que simplesmente se complementam, como é o caso desses dois termos.

O Daimon, quer dizer o anjo bom. E o ethos a morada humana. Como bem já nos apontou o pré-socrático Heráclito: "o ethos é o daimon do ser humano" vale dizer, "a casa é o anjo protetor do ser humano".

Esse Daimon andou meio perdido nas minhas relações. E o Ethos um tanto quanto bagunçado. E agora que resolvi parar para arrumar as coisas vejo a necessidade imensa de resgatar esses dois princípios complementares e tão fundamentais para o equílibrio de que todos necessitamos.

Lanço hoje um olhar desconfiado sobre a "minha" alteridade. Concluo que, de fato, "o inferno são os outros", como Sartre nos dizia. E sou inferno também. Portanto arrumar a casa é o mínimo que posso fazer para que esses infernos variados não se estereotipem, mas se agreguem e respeitem-se mutuamente. Daimon não quer dizer demônio, como pode pensar alguém que não conhece o termo, mas metaforicamente, se tomarmos o inferno da alteridade podemos dizer que este é o demônio que a lidera, e todos nós temos de fato esse "anjo perdido", que precisa ser resgatado todos os dias e esse Ethos, o inferno insondável onde todos estamos residindo interiormente.

Ediane Soares

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