segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A Questão do Haití e a Paz Perpétua de Kant

Estou trabalhando em um texto na tentativa de fazer um paralelo entre Kant e Rousseau, tendo como pontos principais a questão da Guerra, do estado e da História. Ao me deparar com a situação do Haiti, lendo o tratado kantiano À Paz Perpétua não tive como não remeter essa triste realidade ás sábias palavras do filósofo alemão.

* * *

O Haiti virou notícia. Não, não houve plena emancipação social e política daquele país... Não encontraram a solução para o seu título mais lembrado: o de país mais pobre do mundo. Não, um haitiano não ganhou o prêmio de melhor artista, intelectual, pacifista ou político do mundo. O Haiti foi ao chão. Ao chão em forma de escombros depois de um terremoto. Morreram haitianos (muitos), brasileiros, americanos, etc. Um país inteiro devastado pela força da natureza e a falta de estrutura mínima do Estado, concretamente falando.

Sabemos que o Haiti é um país conhecido por ser o mais pobre do mundo. Sabemos também que o povo haitiano vem sofrendo há anos com a situação política e social de seu país. Existe um estado de segregação no Haiti há bastante tempo, onde, esse povo tão guerreiro, que historicamente se libertou das correntes que os privavam de liberdade, nos últimos anos viu-se submetido á militarização e a governos que não atendem ás necessidades reais estruturais, em todos os sentidos, do território haitiano.

Muito se ouviu falar sobre o ocorrido com o Haiti na última semana. E muitas foram as causas apontadas para o ocorrido: a fúria da natureza como resultado da ação humana contra ela; a falta de estrutura, que fez com que as conseqüências do terremoto fossem mais desastrosas, etc. Vários podem ser os motivos que levaram ao que estamos assistindo todos os dias na televisão, lendo nos jornais, ouvindo nos rádios, nas ruas... Enfim. Podemos dizer que todos os motivos são válidos, no entanto, existe algo nas entrelinhas do ocorrido que também precisa ser ressaltado, e é justamente neste ponto que recorro ao legado kantiano em À Paz Perpétua, no Suplemento Primeiro sobre a garantia da paz perpétua:

"O que subministra esta garantia é tão-só a grande artista, a Natureza (natura daedala rerum), de cujo curso mecânico transparece com evidência uma finalidade: através da discórdia dos homens, fazer surgir a harmonia, mesmo contra a sua vontade. Chama-se, por isso, também destino, enquanto compulsão de uma causa necessária dos efeitos segundo leis que nos são desconhecidas, e Providência" (p. 23)*


Para Kant em termos de História Universal o homem é o fim último da natureza. Tudo o que acontece tem uma determinação, e esta é fruto da livre vontade intrínseca a natureza humana. Para ele os homens são, por natureza, maus, porém, eles mesmos desejam ser bons, mesmo que seja para viver comodamente. Então, transitando nessa ambigüidade presente em cada individuo, a humanidade caminha para a Paz Perpétua, e mesmo as guerras estão a serviço dela.

O que vemos no Haiti é justamente essa ambigüidade. O caos da violência e da miséria em convívio com a solidariedade e a compaixão. É um retrato pleno do que Kant expõe em sua obra. Sendo assim, a luz do pensador de Königsberg, espero que a História da Humanidade, Universal e cosmopolita aprenda com o Haiti e pelos “haitis”, e que ao superarmos essa fenda que acomete o mundo possamos olhar com maior admiração para a história desse povo em especifico e possamos respeitá-los, não em função do desastre ocorrido, mas por sermos também co-participes dos haitianos enquanto espécie.

Somos o Haiti! "O Haití, é aqui"...



* A edição consultada para a citação encontra-se on-line no endereço: http://www.lusosofia.net/textos/kant_immanuel_paz_perpetua.pdf.

Ediane Soares

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