segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um olhar sobre a Filosofia no Ensino Médio

Filosofar

A coisa mais sensata que aprendi sobre o ensino de filosofia é que não se ensina filosofia, mas sim a filosofar...

E o que é filosofar? Podemos pensar o filosofar como o ato de pensar para além do que é óbvio. É não se conformar com o trivial, e não se conformando, investigar até que em um dado momento obtenha-se um saber elaborado, não fechado em si mesmo, reflexivo, capaz de satisfazer algumas respostas e incapaz de ser absoluto e puramente cientifico.

Podemos dizer que a filosofia é a área do conhecimento que “se organiza para desorganizar e desorganiza para se organizar” . Ou seja, tem a sua cientificidade, mas não se esgota nela, pois mesmo na sua forma sistemática, pedagógica ou formal, digamos assim, tem por característica peculiar a abertura para novos questionamentos. Não é pura espontaneidade e senso comum, tampouco se restringe a formalização de conceitos e teses acadêmicas. A Filosofia enquanto saber elaborado e sistemático consiste no constante diálogo entre as diversas filosofias e contextos.

O Ensino da Filosofia

Atualmente no Brasil, a filosofia é uma disciplina obrigatória no Ensino Médio. Algumas escolas, especialmente as públicas, tentam como podem se adaptar ás novas orientações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), outras burlam a legislação, por acreditarem que estudar filosofia no Ensino Médio não é algo importante ou mesmo necessário.

É absurdo pensar que 2.500 anos, aproximadamente, de história e de conhecimento sejam tratados com tamanho descaso a despeito de sua importância. Sabemos que com a obrigatoriedade não será possível “reparar” os anos que foram negligenciados, mas esperamos que ao menos, em longo prazo, consiga-se estabelecer um novo olhar sobre a filosofia, a sua história e a sua atualidade e importância para a sociedade.

A questão não é apenas legitimá-la como disciplina obrigatória, mas garantir o direito a todos de filosofar, de produzir conhecimento, de questionar e de superar o senso comum, sem necessariamente se especializar nessa área.

Os professores

O papel dos professores de filosofia, assim entendo, deve ser o de despertar a curiosidade filosófica de seus alunos, não uma curiosidade qualquer, desinteressada, mas sim aquela que o leve a ultrapassar limites no campo da sabedoria. Que parta da sua realidade e tenha por aliada a tradição e que através da tradição possa repensar a realidade a fim de superá-la e construir novos conhecimentos

Filosofia e educação facilmente se confundem no desenrolar da história. Philos e Sophia, termos gregos que dão origem a palavra filosofia, traduzem exatamente o sentimento da Paidéia (a pedagogia grega): o amor ao saber. É por amor ao saber que aquele que será a referência para a socialização do saber filosófico elaborado, deve ser valorizado desde a sua formação acadêmica até o exercício da sua profissão.

Os cursos superiores de filosofia no Brasil têm, normalmente, seu foco para a graduação na modalidade de Bacharelado, que direciona os estudantes para a pesquisa acadêmica. Os cursos de licenciatura que vão surgindo, têm como desafio a responsabilidade de formar pensadores críticos, sistemáticos e intelectualmente bem informados, tudo isso com metodologia e didática adaptadas para a realidade do Ensino Médio.

A formação dos professores é de fundamental importância, assim como as práticas de iniciação à docência promovida pelas Universidades como experiências de estágio, laboratórios e troca de informações com profissionais já atuantes na área. De modo que aos poucos, não mais seja necessário a atuação de professores formados em outras áreas no ensino da filosofia.

A realidade da Educação no Brasil

A realidade dos educadores da rede pública de Ensino Básico é bastante conhecida. Sabemos que além de muitos não serem efetivos e não terem muitas garantias, a carga horária de trabalho é bastante longa e fragmentada. Além do mais, muitas vezes, dão aulas em várias escolas para complementar a renda, que é insuficiente e por vezes irregular.

Os professores de filosofia vivenciam essa situação. Além disso, tem o fato de que a filosofia ainda não é uma disciplina que tem certo reconhecimento e legitimidade no cotidiano das escolas, tanto pelos estudantes, como gestores e demais docentes. A carga horária por turma é muito pequena, muitas vezes de apenas 50 (cinqüenta) minutos semanais, e o professor é sobrecarregado com muitas turmas para completar a sua carga horária de trabalho.

Diante dessa realidade temos o desafio de pensar de que maneira a Educação Básica como um todo, como política pública e direito inalienável, pode ser mais valorizada. Sabemos que a raiz do problema está no seio da sociedade em que vivemos, e no modelo de desenvolvimento que comanda as suas diretrizes e priorizações, cabe-nos lançar um olhar questionador e transformador a partir mesmo da debilidade existente na estrutura do sistema educacional. É a partir do problema que podemos resolvê-lo. Só a educação poderá transformar a realidade dela mesma. E só o ensino da filosofia poderá afirmar a sua importância na educação, posicionando-se como tal e impondo-se para tal.

Ediane Soares

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