Te amo por que transitas
entre anoiteceres e alvoradas
te amo por que tua estrada
é atravessada por paisagens abertas
te amo por que teu rosto
mais que bonito, expressa multidões
te amo por que no tempo
questão de espaço é só ilusão
amo tua ausência
teus medos
amo o segredo
a abnegação
amo teu desvelo
teu complexado cabelo
amo teu corpo e os teus variados passos
amo a tua pressa
a minha espera
amo saber que nada vai bastar.
Te amo pela luta armada
mesmo que tuas armas
não sejam mais que as mãos
amo a tua raiva e a utopia
amo teus desejos e a convicção
amo a transição
amo a solidariedade
a tua solidão e a tua revolta
te amo revolucionária
moça de família
amiga-irmã de muitos
inimiga isenta de alguns poucos
te amo algóis da carne de porco
te amo porto, ponte, trampolim
te amo sem um para mim
te amo mês de fevereiro
amo-te o ano inteiro
amo a concepção
as pedradas
amo molotov
máscaras e caras
no apoio ao fronte ou na revelação.
Te amo numa intentiva abortada
amo-te poesia-fogo-espada
amo a tua luz de dia
amo melodia
amo compaixão
te amo na eterna fração
da ânsia coletiva ou do individuo absurdo
dos abraços e submundos
te amo gozo, férias, exaustão
te amo trabalho puxado
amo tuas salas, sentidos, faros
amo tuas aulas e a preparação.
E amo mesmo tudo estando frouxo
o feixe, o enlace, o endosso
amo essa lógica invertida
a chegada-partida
o que escorrega entre as mãos.
Te amo e canto a persistência
amo a paciência e falta de atenção
amo a anuência de endereço
amo teu rarefeito fim-recomeço
teus homens, teus jargões
amo os teus sermões
e todos os anos que nos precederam
eu amo o teu terreiro
amo tua nação, teu pai
tua mãe, tua irmã
- tua famigerada ilha de observação.
Amo tua esperteza
teus acertos tortos
tua memória líquida
teu não lugar
teu desligar
teu encontro em vão.
Eu amo sim, teu casamento
amo teu coletivo
teu movimento
amo a tua mola em contramão.
Te amo e amo-te tal qual a força
que sobre mim exerce tal contradição
te amo, e não.